Arquitetura Paleocristã
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Arquitetura Paleocristã
A arquitetura paleocristã ou cristã primitiva é a arquitetura produzida por cristãos ou sob o patrocínio cristão desde o início do século II até o final do século V. Não há construções cristãs sobreviventes do século I, porque nesta fase o cristianismo ainda estava se formando. Após aproximadamente o final do século V a arquitetura cristã incorpora o estilo artístico bizantino.
As características da arte cristã primitiva incluem: grande dispersão geográfica e portanto, grande diversidade de resultados, de acordo com a regionalidade dos mesmos; a utilização dos modelos estilísticos herdados da roma clássica; o uso portanto de novas formas e técnicas estéticas oriundas das áreas periféricas do império romano em especial do oriente; subordinação a um novo espírito e uma nova temática cristã, com sua iconografia retirada das sagradas escrituras, além de um sentido doutrinal e pastoral às artes em geral.
Antes do início do século II os cristãos eram um grupo minoritário fortemente perseguido. Nesse período o cristianismo era uma religião exclusiva das classes mais baixas, portanto a ausência arte sobrevivente pode refletir uma falta de recursos para patrociná-la. Os primeiros indícios claros na afirmação de um estilo próprio cristão surgem em inícios do século II, sendo seu expoente as pinturas murais nas catacumbas romanas, lugar de culto e refúgio cristãos. Normalmente os primeiros cristãos representavam o corpo humano de maneira proporcional e bidimensional, por vezes adaptando elementos da arte pagã, e obviamente harmonizando-os com os ensinamentos cristãos, bem como também desenvolveram sua própria iconografia, por exemplo, símbolos como o peixe (Ictus).
Durante a perseguição aos cristãos sob o Império Romano, a arte cristã era deliberadamente furtiva e ambígua e, por vezes, era colocado em locais junto com a com a arte pagã comum, mas possuía um significado especial para os cristãos. É provável que tenham existido vários centros artísticos com estilos artísticos próprios, como Alexandria e Antióquia, mas é em Roma que se revelam as primeiras pinturas murais em catacumbas, locais que serviam de cemitério subterrâneo aos aderentes do cristianismo, de fato, a arte cristã sobrevivente mais antiga provém do início do século II nas paredes dos túmulos nas catacumbas de Roma. Inicialmente, Jesus foi representado indiretamente pelo pictograma simbólico do Ictus (peixe), pavão , Cordeiro de Deus, ou uma âncora.
Até à declaração de liberdade de culto, a arte cristã não tinha uma tipologia arquitetônica própria, optando por celebrar o seu culto em lugares pouco relevantes. Com o Édito de Milão, Constantino apoia a construção de templos próprios, em Roma, Milão, Ravena, de modo a divulgar a nova religião e acolher o crescente número de convertidos.
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A basílica
A grande referência arquitetônica dessa época foi o templo cristão, e o próprio desenvolvimento desse conceito, já que devido às perseguições aos cristãos ocorridas na fase ainda embrionária do cristianismo, estes se encontravam frequentemente nas catacumbas romanas. De tal templo se esperava duas funções: uma morada para Deus, como recinto de culto, e um local de congregação dos fiéis, com diferentes necessidades e funções para o espaço.
Estas igrejas primitivas adotaram um prédio comum em Roma, usado para diversos fins, que era a basílica, após a conversão de Constantino ao cristianismo. Tanto os gregos como os romanos, adotavam um modelo de edifício, denominado “basílica”, administrada pela figura do Basileu, que seria mais ou menos como um Juiz nos dias de hoje, lugar civil destinado ao comércio e assuntos judiciais, que depois passam a ser usadas para fins religiosos, por causa do tamanho e por poder abrigar um número alto de fiéis.
A planta basilical tinha a forma de cruz latina, com três ou cinco naves, arcadas e colunatas cobertas por tetos armados com madeira. Posteriormente, foi adotada também a planta centrada, de influência oriental, de formas circulares, octognais ou de cruz grega, e cobertas com cúpulas.
Estas primeiras construções eram exteriormente muito simplórias e austeras. Em seu interior já possuíam alguma decoração pictórica, afrescos ou mosaicos, ricamente coloridos.
Os baptistérios (edifícios sagrados destinados à celebração do batismo), tal como os mausoléus (túmulos), adotaram a planta centrada, com uma das portas orientada a leste e outra a poente, com enormes cúpulas sobre a sala central.
As novas igrejas, desenvolvidas a partir da basílica romana, vão revelar a base do que será a arquitetura religiosa da Europa ocidental ao longo dos séculos. A basílica clássica, um espaço amplo onde se possibilita o agrupamento de um avultado número de pessoas, pode satisfazer várias necessidades (tribunal, mercado, audiências etc), mas nunca serve o propósito de local de culto.
Mas embora se tenham levado a cabo várias edificações, estas foram sendo alteradas ao longo dos tempos e nenhuma se apresenta hoje com o seu traçado original.
A basílica paleocristã compõe-se, então, por uma nave central com clerestório de janelas altas, abertas em paredes assentes em arquivoltas ou em arquitraves, cujas colunas fazem a ligação a outras duas naves laterais (colaterais) de menor altura. Todo o espaço segue um eixo longitudinal e converge a oriente na ábside, onde se situa o altar, e que é emoldurada por um arco triunfal. Este arco pode estar assente numa área elevada denominada bema. Em algumas basílicas, entre as naves e a ábside, situa-se uma nave transversal, o transepto, que forma um T com a nave central. Os tectos eram de travejamento à vista, de madeira.
Mosaico
O desenvolvimento da arquitetura e a emergente necessidade de decorar vastas superfícies vão impulsionar a produção artística do mosaico, uma técnica com origens na arte antiga, difundida na Mesopotâmia e com profundas tradições no período greco-romano. O mosaico romano, geralmente utilizado para o revestimento de pavimentos, é feito à base de pequenos cubos de mármore (tesserae) que se adaptam bem à reprodução cuidada de pinturas, mas de pouca intensidade cromática.
A arte paleocristã, podendo agora usufruir de maiores bases financeiras e relegando para segundo plano a pintura mural a fresco, vai procurar aperfeiçoar a técnica e vai brindar o interior da igreja com intensas e vibrantes imagens policromáticas, possíveis pela substituição do mármore por pedaços de vidro colorido. Este novo material não permite, no entanto, uma paleta complexa de matizes e a modelação das figuras perde o seu contacto com o mundo real, as personagens apresentam-se como seres transcendentais, imateriais, habitantes de um reino de luz e ouro.
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Pouco sobreviveu destes primeiros mosaicos do paleocristianismo, mas supõe-se que cobririam as grandes superfícies da ábside, do arco triunfal e da nave, representando cenas bíblicas. Crê-se que a sua variedade formal tenha ainda herdado muito da arte romana adaptando-a aos novos conteúdos religiosos e isso pode-se ainda observar-se na Basílica de Santa Maria Maggiore pela forte geometrização e pelo ilusionismo espacial.
Iluminura
Em oposição à arte romana pagã, o cristianismo baseia o seu conteúdo nos textos sagrados da bíblia, cunhando os manuscritos com ilustrações, as iluminuras, de elevada importância no processo de manutenção e propagação das escrituras. Acompanhando este aumento produtivo está também o desenvolvimento da técnica da produção dos suportes para manuscritos. Até então eram usados rolos de papiro que não permitiam grande liberdade artística no que diz respeito à ilustração. O permanente enrolar e desenrolar do papiro causava a deterioração da tinta criando–se apenas cabeçalhos com formas simples e lineares. Com a introdução do pergaminho, na século II a.C., que se pode dobrar sem partir, surgem os primeiros livros com encadernações ricas em madeira e decoração em metal e pedras preciosas, os códices (vellum codex), onde a liberdade formal e cromática não encontra os limites anteriormente estabelecidos pelo suporte.
Poucas são as iluminuras do paleocristianismo que sobreviveram até aos nossos dias, mas o pouco que se conhece a partir do século V, apresenta uma rica variedade cromática que recebe inicialmente muita da influência da estrutura espacial e geometrização da pintura greco–romana.
Escultura
Nos dois primeiros séculos há poucas esculturas e estátuas, uma vez que elas eram mais difíceis de confeccionar, e custavam mais caro, no entanto, a partir do século III surgem diversos exemplos de seu uso pelos fiéis.
Embora se tenha renunciado à escultura de escala monumental, o busto de forte tradição clássica mantém-se por um longo período, efetuando-se retratos de carácter formal abstrato e transcendental, de imperadores e altos funcionários do estado.
Dípticos de marfim
De herança clássica, os dípticos de marfim (duas abas com relevos no exterior em marfim e superfície de cera no interior) eram peças pessoais de trabalho decorativo requintado, que serviam de invólucro para guardar documentos ou manuscritos. Refletindo gostos pessoais estas peças possuíam, muitas vezes, a conjugação de elementos clássicos e simbologia cristã, consoante a fé do autor da encomenda.
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