Arquitetura Moderna
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A Arquitetura Moderna, ou modernista, não é exatamente um estilo, no sentido estético do termo. Esteticamente a arquitetura modernista se caracteriza justamente pela inexistência de regras estilísticas, uma vez que seu surgimento foi resultado da experimentação de novas e inovadoras tecnologias de construção, particularmente no uso de vidro, aço e concreto armado; também se baseia na ideia veemente de que a forma deve seguir a função (funcionalismo); pela tendência ao minimalismo; e uma rejeição do ornamento.
O modernismo foi um movimento cultural que surgiu na mesma época, e em consonância com ideais políticos que questionavam a ordem social vigente até então. Este engajamento incumbiu ao arquiteto a responsabilidade pela correta e socialmente justa construção do ambiente habitado pelo homem, carregando-o de um fardo pesado, indevido e impraticável em sua totalidade.
Na arquitetura, surgiu gradativamente na primeira metade do século XX e se tornou mundialmente dominante após a Segunda Guerra Mundial até a década de 1980, quando recebia a referência predominantemente estilística de International Style, e foi gradualmente substituída como padrão principal de edifícios institucionais e corporativos pela arquitetura pós-moderna.
Modernismo
Pode-se dizer de forma mais acertada que a Arquitetura Moderna é uma designação genérica para um amplo conjunto de experimentos, movimentos e escolas arquitetônicas, boa parte deles coexistentes, que vieram a caracterizar a arquitetura produzida durante o século XX. Inserida no contexto artístico e cultural do modernismo, o termo moderno é, assim, uma referência genérica que não traduz diferenças importantes entre arquitetos daqueles períodos.
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Abaixo, uma cronologia aproximada dos muitos Movimentos e Escolas Arquitetônicas que contribuíram para a formação e consolidação da Arquitetura Moderna.
- Arts and Crafts (1880-1890)
- Art Nouveau (1890–1910)
- Escola de Chicago (1880-1890)
- Modernismo Catalão (1888–1911)
- Escola Prairie (1890s–1920s)
- Expressionismo (1910–)
- Art Deco (1910–1939)
- De Stijl (1917–1931)
- Escola Bauhaus (1919–1933)
- Construtivismo (1920–1932)
- New Objectivity (1922–1933)
- Streamline Moderne (1925–1950)
- Racionalismo Italiano (1920s–1930s)
- International Style (1920s–)
- Funtionalismo (1920s–1970s)
- Futurismo (1920s–)
- Organicismo (1920s–)
- Pós-Construtivismo (1930s)
- PWA Moderne (1933-1944)
- Stalinismo (1930s–1950s)
- Mid-century modern (1933–1969)
- Googie (1940s–1960s)
- Brutalismo (1940s–late 1970s)
- Estructuralismo (1959–)
- Pós-moderna (1960s–late 2010s)
- Blobitecture (1960s–)
- High-tech (1970s–)
- Regionalismo Crítico (1980s–)
- Deconstrutivismo (1980s–)
- Neomodernismo (1990s–)
- New Classical (1990s–)
- Arquitetura Contemporânea (2000s–)
- Neofuturismo (2000s–)
Não há um ideário moderno único. Seus fundamentos podem ser encontradas em origens diversas como a Bauhaus na Alemanha, em Le Corbusier na França, em Frank Lloyd Wright nos Estados Unidos ou nos construtivistas russos, alguns ligados à escola Vkhutemas, e vários outros. Estas fontes tão diversas encontraram nos CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) um instrumento de convergência, produzindo um ideário de aparência homogênea resultando no estabelecimento de alguns pontos comuns.
Raízes Históricas da Arquitetura Moderna
Para os principais historiadores da arquitetura (como Leonardo Benevolo, Nikolaus Pevsner e Kenneth Frampton), as bases primordiais da arquitetura moderna se assentam ainda antes do século XX, em um contexto de mudanças técnicas, sociais e culturais ligadas à revolução industrial e à transição gradual do campo para a cidade. As consequências dessas transformações já eram sentidas no planejamento e na construção de cidades entre o final do século XVIII e o início do século XIX.
No entanto, a primeira linha coerente de pensamento que propunha o desligamento da produção artística, das correntes estéticas tradicionais para uma inovadora influência nas formas encontradas na natureza, ocorreu a partir de 1860 na Inglaterra, com William Morris a frente do movimento Arts and Crafts. Este movimento propôs os primeiros conceitos do que nas décadas seguintes viria a se tornar o movimento Art Nouveau.
Entretanto, o ponto crucial do processo de desenvolvimento da arquitetura moderna foi alcançado a partir de 1919, quando Walter Gropius funda a Bauhaus em Weimar, na Alemanha. Em sentido mais estrito, é a partir desse momento que podemos falar do termo movimento moderno.
Antes dessa data, uma série de experiências incentivou e tornou possível a formação do movimento moderno: William Morris e o movimento Arts & Crafts; Victor Horta, Otto Wagner e o Art Nouveau; Josef Hoffmann e a Wiener Werkstätte; Hendrik Petrus Berlage e a Escola de Amsterdã; Adolf Loos e seu Racionalismo; Louis Sullivan e a Escola de Chicago; Tony Garnier e Auguste Perret e o uso de concreto armado; Erich Mendelsohn e a Arquitetura Expressionista; Frank Lloyd Wright e a Prairie School. A ação inovadora desses arquitetos de vanguarda começou em 1890 e, desde a década de 1910, esteve intimamente ligada a correntes artísticas como o cubismo e o neoplasticismo.
Os arquitetos geralmente referidos como mestres do movimento moderno são Le Corbusier na França e Walter Gropius e Ludwig Mies van der Rohe na Alemanha. Os dois últimos foram diretores da Bauhaus, uma escola de arquitetura e artes aplicadas fortemente orientada para técnicas industriais já iniciadas na Deutscher Werkbund em 1907 com Peter Behrens.
Além deles, Arne Jacobsen, Kenzō Tange, Jacob Bakema, Constantin Melnikov, Erich Mendelsohn, Rudolf Schindler, Richard Neutra, Gerrit Rietveld, Bruno Taut, Gunnar Asplund, Oscar Niemeyer e Alvar Aalto são os principais arquitetos do movimento. Sua atuação revolucionou as formas arquitetônicas e tentou conciliar industrialismo, sociedade e natureza na proposição de moradias coletivas e planos ideais para cidades inteiras.
Nos anos 1960, a arquitetura moderna já havia sido adotada mundialmente, sob linhas estilísticas cuja homogeneidade fundamentavam a denominação de International Style, abandonando a essa altura algumas de suas premissas fundamentais, e tendo questionada sua vocação progressista.
Fundamentos da Arquitetura Modernista
Os primeiros conceitos que viriam a constituir a arquitetura moderna surgiram no final do século XIX, e consistiam nas revoluções da tecnologia, engenharia e materiais de construção, e num desejo de romper com os estilos arquitetônicos históricos e inventar algo puramente funcional e, portanto, inteiramente novo.
Sob esses conceitos, é possível identificar três principais linhas evolutivas nas quais pode-se encontrar a gênese da arquitetura moderna. O que une as três linhas é o fato de que elas terminam naquilo que é chamado de movimento moderno na arquitetura, considerado o clímax de uma trajetória histórica que desembocou na arquitetura realizada na maior parte do século XX.
A primeira destas origens é a que leva em consideração que o ideário arquitetônico moderno está absolutamente ligado à visão de mundo iluminista. Esta linha localiza o momento de gênese na arquitetura realizada com as inovações tecnológicas obtidas com a Revolução Industrial e com as diversas propostas urbanísticas e sociais realizadas por teóricos como os socialistas utópicos e os partidários das cidades-jardins. Segundo esta interpretação, o problema estético aqui é secundário: o moderno tem muito mais a ver com uma causa social que com uma causa estética.
A segunda linha leva em consideração as alterações que se deram nos diversos momentos do século XIX com relação à definição e teorização da arte e de seu papel na sociedade. Esta interpretação dá especial destaque ao movimento Arts & Crafts e à Art Nouveau de uma forma geral, consideradas visões de mundo que, ainda que presas às formas e conceitos do passado, de alguma forma propunham novos caminhos para a estética do futuro, caminhos bastante originais para a época.
Uma terceira linha, normalmente a mais comumente entendida como sendo a base do modernismo, é a que afirma que a arquitetura moderna surge juntamente com a gênese do Movimento Moderno. A arquitetura moderna surge, portanto, com as profundas transformações estéticas propostas pelas vanguardas artísticas das décadas de 10 e 20, em especial o Cubismo, o Abstracionismo (com destaque aos estudos realizados pela Bauhaus, pelo De Stijl e pela Vanguarda Russa) e o Construtivismo.
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Principais Características da Arquitetura Moderna
Apesar de ter sido um período da produção arquitetônica internacional formado por vários movimentos e influências, o modernismo manifestou alguns princípios que foram seguidos por inúmeros arquitetos, das mais variadas escolas e tendências.
Uma das principais bandeiras dos modernos é a rejeição dos estilos históricos principalmente pelo que acreditavam ser a sua devoção ao ornamento. Com o título de Ornamento e Crime (1908) um ensaio de Adolf Loos critica o que acreditava ser uma arquitetura preocupada com o supérfluo e o superficial. O ornamento, por sua vez, com suas regras estabelecidas pela Academia, estava ligado à outra noção combatida pelos primeiros modernos: o estilo. Os modernos viam no ornamento, um elemento típico dos estilos históricos, um inimigo a ser combatido: produzir uma arquitetura sem ornamentos tornou-se uma bandeira para alguns.
Outra característica importante eram as ideias de industrialização, economia e a recém-descoberta noção do design. Junto com as vanguardas artísticas da décadas de 1910 e 20 havia como objetivo comum a criação de espaços e objetos abstratos, geométricos e mínimos. Os edifícios deveriam ser econômicos, limpos, úteis. A partir dessas diretivas, é comum encontrar as seguintes características na arquitetura moderna:
- elementos lineares;
- formas simples;
- aparências retangulares;
- figuras geométricas.
Duas máximas se tornaram as grandes representantes do modernismo:
Menos é Mais – frase cunhada pelo arquiteto Mies Van der Rohe.
A forma segue a função (“form follows function”), do arquiteto proto-moderno Louis Sullivan.
Estas frases, vistas como a síntese do ideário moderno, tornaram-se também a sua caricatura.
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Arquitetura de Aço e Vidro
O forte crescimento demográfico da Europa no século XIX deu origem a grandes transformações urbanas e, por consequência, novas necessidades de organização do espaço urbano. O rápido e crescente processo de industrialização das cidades europeias resultou no deslocamento populacional para as grandes cidades, inchando-as rapidamente, diminuindo a qualidade de vida e aumentando o preço dos terrenos. Esta pressão populacional resultou no aumento das cidades em direção à sua periferia (aumento de área), mas também no aumento da densidade próximo do centro. Esta maior densidade no núcleo das cidades foi a principal motivação para a verticalização dos edifícios, a qual foi viabilizada graças as novas técnicas de construção que surgiram durante o século XIX.
Estas novas técnicas de engenharia, já bem aperfeiçoadas em fins daquele século tornaram possível o aumento expressivo do número de andares dos edifícios. Este fenômeno esteve ligado principalmente ao desenvolvimento de novas técnicas de utilização do ferro e dos novos processos de industrialização que levaram à produção com qualidade e em larga escala do vidro.
A revolução dos materiais veio primeiro, com o uso de ferro fundido, vidro laminado e concreto armado, para construir estruturas mais fortes, mais leves e mais altas. O processo de vidro laminado foi inventado em 1848, permitindo a fabricação de janelas muito grandes. O Palácio de Cristal de Joseph Paxton na Grande Exposição de 1851 foi um dos primeiros exemplos de construção de ferro e vidro em chapa, seguido em 1864 pela primeira parede de cortina de vidro e metal. Esses desenvolvimentos juntos levaram ao primeiro arranha-céu com estrutura de aço, o Home Insurance Building de dez andares em Chicago, construído em 1884 por William Le Baron Jenney. A construção em estrutura de ferro da Torre Eiffel, então a estrutura mais alta do mundo, capturou a imaginação de milhões de visitantes da Exposição Universal de Paris de 1889.
O industrial francês François Coignet foi o primeiro a usar concreto reforçado com ferro, isto é, concreto reforçado com barras de ferro, como uma técnica para a construção de edifícios. Em 1853, Coignet construiu a primeira estrutura de concreto armado com ferro, uma casa de quatro andares nos subúrbios de Paris. Outro passo importante foi a invenção do elevador de segurança por Elisha Otis, demonstrado pela primeira vez na exposição do New York Crystal Palace em 1854, que tornou viáveis os prédios comerciais e residenciais mais altos. Outra tecnologia importante para a nova arquitetura foi a luz elétrica, que reduziu bastante o perigo inerente de incêndios causados por gás no século XIX.
O ferro aliado às novas técnicas de engenharia produzindo sistemas em treliça leves e resistentes, permitiu criar estruturas cada vez maiores e mais ousadas, como longas pontes com grandes vãos-livres e grandes cúpulas. Outra vantagem proporcionada pela tecnologia do ferro foi a agilidade no processo da montagem.
Uma Arquitetura focada na função
A estréia de novos materiais e técnicas inspirou arquitetos a romper com os modelos neoclássicos e neobarrocos que dominavam a arquitetura européia e americana no final do século 19, principalmente a arquitetura Vitoriana, Eduardiana e o ecletismo de estilos encontrado na Escola de Belas Artes.
Essa ruptura com o passado foi particularmente solicitada pelo teórico e historiador da arquitetura Eugène Viollet-le-Duc. Em seu livro Entretiens sur L’Architecture, de 1872, ele insistia: “use os meios e os conhecimentos que nos são dados por nossos tempos, sem as tradições intermediárias que não são mais viáveis hoje em dia e, dessa forma, podemos inaugurar uma nova arquitetura. Para cada função, seu material; para cada material, sua forma e seu ornamento”.
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Este livro influenciou uma geração de arquitetos, incluindo Louis Sullivan, Victor Horta, Hector Guimard e Antoni Gaudí.
Saiba mais
Wikipedia (inglês)
A Arquitetura Modernista no Brasil
Referências
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